domingo, 9 de março de 2014

Ode A Olissipo (Parte 1)

Oh amor,
Das grandes manchas de estranja.
Ondas de quem não é e quer ser.
Ou quer sê-lo.
Mas nunca será.

Paixão,
De quem te vive.
Quem te viveu.

Arvoredo de casas
Translucidamente belo.
Um fado te tributo
E um seguidamente o farei.

Ó cidade,
Espelho de mil raios.
Montanha eterna,
Indestrutivelmente eterna.

O palco da vida moderna te chama.
Amor conspurcado.

Os teus filhos partem saudosos,
Porquê mãe?
Porque nos deixas partir,
Se tanto nos amas?
Três raios de Sol iluminam o teu esquecimento.

A lua, terra, mar e deuses.
Todos te invejam.
Contemplamos-te como se de um templo se tratasse.
O templo de uma religião secular
Que Ulisses criou.

Ninfas,
Tragam-me de volta ao mar.

Deixem-me viver.
Não quero partir.

Porquê partir se a ti pertenço?
Casa de mil reis, rainhas e príncipes.
Palco da cultura, da política e...

A ti te saúdo com saudade!
(Redundância ignóbil,
Pois choro e grito por não te ser.)
Quero amamentar-me de ti.
Sugar. Viver. Morrer.

Das minhas cinzas a tua terra padecer.
No meu coração luso o céu engrandecer.

O teu céu, Olissipo.
O teu céu, aquele que as naus viram
Antes da derradeira partida.
O teu céu, aquele que nada tinha
Mas que tudo era.

E quem sonhava!
Ó quem em ti sonhava,
E morria sonhando!

Quem de ti vivia.
Quem não sendo um,
Era todos e em toda a parte.

Ó como te amo!
Como seria capaz de chorar
No teu colo quente até adormecer.
Como por ti lutava!

Nada menos que a eternidade,
Seria para ti digno.

(Sento-me.
Choro o vazio e tudo.
E tu, amor, consolas-me.
Uma gaivota berra.
As ondas cantam.
Danço um slow em memória...
Mas de quê, mãe?)

Volto assim à complacente fervura,
Um cântigo celta, um fado gritado!
A vida, a morte,
Cantando um fado chorado!
Onde estão os teus braços,
Para me segurar?
Os meus óculos estão baços.
Não, não quero voar.

Eu quero nadar, mãe.
Quero de ti fazer parte.
Quero ser uma árvore.
Um pássaro, talvez.
Quero em ti ser e tudo ser.
Sonho em sonhar contigo.

Como será o sonho dos outros?,
Não sendo eu nem tu, profunda paixão.
Que será deles?
Que seria de mim?
Que faremos nós?

Não respondas, mãe,
Um cruzeiro aproxima-se.
Eles ouvem-nos.
E querem ser nós.

(Não sei nadar, mãe.
Grita-me que deste lado estou.
Ajuda-me!
Quero saltar!
Diz-me que aí estas.
Mãe, não quero morrer, mãe.)

Quero partir contigo.
Embarcar. Acompanha-me.
Sinto-me tão sozinho.

Aaaaaaaaaaaaah!
Foge! Os canhões!
Consigo ouvi-los, foge comigo!
Eles aí vêm,
Eles estão aqui, mãe!

Morres, eterna,
Sem de ti fruto haver.
És o fruto da nossa nação.
Não o trono,
Mas o nosso coração.

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